terça-feira, 28 de outubro de 2014

OS PRIMEIROS DISCÍPULOS


Texto: João 1:35-42

 
 “Estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20:31.

 

Introdução:
 
     O apóstolo João declara o propósito de escrever esse evangelho: “Estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20:31.
     João transmite-nos todo o volume do testemunho que o convenceu, e a outros da sua geração, quanto à divindade de Cristo, e tem confiança de que outros, igualmente, serão iluminados com a mesma convicção.

      O apóstolo apresenta três séries de testemunho:

1)   Os milagres de Cristo, que chama de “sinais”, porque demonstram a divindade de quem o opera. Quantos milagres operados antes da crucificação João registra no seu livro?

1.   Água transformada em vinho (Jo 2:1-11).
2.   Cura da febre o filho de um oficial do rei (Jo 4:46-54).
3.   Cura o paralítico enfermo havia 38 anos (Jo 5:1-16).
4.   Alimenta cinco mil homens, fora mulheres e crianças (Jo 6:5-14).
                        5.   Faz cessar o vento e barco chega à terra (Jo 6:21).
6.   A cura de um cego de nascença (Jo 9).
7.   A ressurreição de Lázaro quando já estava morto a quatro dias (Jo 11:32-44).
8.   Resposta a Sua oração (Jo 12:28-30).
9.   Recuam e caem por terra os que foram prendê-lo (Jo 18:4-6).
10.       Cura a orelha de Malco, servo do sumo sacerdote (Jo 18:10).
 
2)   As asseverações de Jesus quanto à Sua natureza e missão. Note quantas vezes João registra as reivindicações de Jesus, que começam com as palavras “eu sou”.
 
3)   João registra os testemunhos de outras pessoas – de João, o Batista, dos primeiros discípulos e daqueles que receberam a cura da parte de Jesus.

    O trecho de João 1:35-42, é um exemplo da terceira série de evidências. Citam-se aqui os testemunhos de João, o Batista e André, irmão de Pedro. 

    Quando Jesus emergiu da vida particular para entrar no ministério público, não tinha nenhum seguidor. Deus, porém, enviara um profeta para preparar o caminho diante d’Ele – João o Batista, para “preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1:17). 

     Foi no meio dos convertidos de João o Batista que Jesus recebeu seus primeiros discípulos.  Nosso trecho bíblico conta como três destes discípulos (inclusive o discípulo não mencionado pelo nome) deixaram a escola preparatória de João o Batista para se tornarem estudantes da escola superior de Jesus. 

I.           Uma Declaração Que Chama a Atenção – (Jo 1:35,36). 

    “No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos [André e João]; e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus”! Estudaremos o significado desta proclamação, examinando as palavras, uma por uma. 



1.   EIS o Cordeiro de Deus (Jo 1:36). 

     Literalmente “veja”. O evangelista apela ao pecador que veja o Crucificado e, contemplando-o, lamente os pecados que causaram Sua morte.  

2.   Eis O Cordeiro de Deus (Jo 1:36).  

     Os sacrifícios de animais não operavam a perfeita redenção, sempre tinham de ser repetidos. Nenhum sacerdote de Israel, cansado por casa do serviço ao redor do altar, poderia voltar para casa, dizendo: “Minha esposa, finalmente ofereci o sacrifício final; o povo está completamente perdoado e purificado”.
 

     No entanto, qualquer um dentre os sacerdotes que obedeciam a fé conforme (Atos 6:7) poderia ter dito isso, porque o Cordeiro perfeito, do qual os demais eram apenas simbólicos, já fora oferecido (cf. Hb 10:11,12).

3.   Eis o CORDEIRO de Deus (Jo 1:36).  

    O cordeiro era um animal sacrifical; João, portanto, identificava Jesus como o sacrifício enviado da parte de Deus, “que tira o pecado do mundo”.

    Leia Isaías 53, que é um ponto alto na doutrina do sacrifício, por profetizar que o próprio Messias em pessoa havia de se tornar a expiação pela raça humana. Compare com Atos 8:32-35. 

4.   Eis o Cordeiro de DEUS  (Jo 1:36).  

    Uma das mais marcantes diferenças entre a fé cristã e o paganismo é que os adoradores pagãos trazem sacrifícios na tentativa de se reconciliarem com os seus deuses, enquanto a mensagem do evangelho declara que o próprio Deus enviou um sacrifício em nosso favor a fim de nos reconciliar consigo (Rm 8:32; 2 Cor 5:19). 

     Deus trouxe a nós o sacrifício que nos coloca mais perto de Deus, e até o Antigo Testamento apresenta a expiação como sendo a dádiva da graça divina: “Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que faz expiação, em virtude da vida” (Lv 17:11). 

II.        Uma Apresentação Inesquecível (Jo 1:37-39)

1.   Os discípulos que procuram (v. 37) -  “Aqueles dois  discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus”.

 
     A congregação de João começou a deixá-lo; ele, no entanto, não sentiu ciúmes porque, afinal, foi justamente esta obra de apontar às pessoas o Messias que viera fazer: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (cf. Jo 3:25-30). O fiel obreiro cristão conduz as pessoas a Cristo, e não a si mesmo. 

2.   A pergunta penetrante (v. 38a) - “Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais?”.  

     O Senhor não deixa que ninguém o siga em vão; mostrará o Seu rosto àqueles que o seguem em sinceridade. Note que as palavras “que buscais?” São um gracioso convite aos que procuram, para que abra o seu coração a Ele.  

     Ele pode nos oferecer tudo quanto buscamos e de que necessitamos. Além disso, a pergunta é um desafio, no sentido de ver se estamos procurando as coisas certas, porque Ele procura discípulos sinceros e que entendam o que estão fazendo. 

3.   A pergunta tímida (v. 38b)“Disseram-lhe eles: rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde moras?”.  

    Apesar de se sentirem um pouco acanhados na Sua presença, os jovens ficaram tão impressionados em seu primeiro contato cm Jesus que desejavam saber mais acerca d’Ele; queriam saber o Seu endereço, visando a uma visita mais prolongada. 

Lição que isso nos ensina: não devemos nos limitar a uma olhada passageira em Cristo; devemos saber onde Ele habita, para que os receba como hóspedes.

4.   O convite gracioso (v. 39a) – “E ele lhes disse: Vide e vede”. 

    Este convite é a melhor resposta aos que duvidam e aos interessados – é o apelo a experiência. Podemos dar às pessoas uma excelente receita culinária, e fazer grande esforço de descrever quão delicioso é certo prato, mas nada se compara com levar o próprio ouvinte a experimentar a comida por si mesmo. “Provai e vede que o Senhor é bom” (Sl 34:8).  

III.     Uma Entrevista Que Transforma a Vida (Jo 1:39) 

“Foram e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia”. 

     O escritor inspirado não nos conta os detalhes daquela inesquecível visita; sabemos, no entanto, que o contato com o radiante Mestre contribuiu com algo de vital à vida de André. 

     Nunca mais foi o mesmo depois daquela entrevista. “Senti um calor estranho no meu coração”, disse João Wesley, descrevendo seu primeiro contato vivo com Cristo, e certamente André sentiu-se assim durante a sua festa espiritual com o Mestre. 

      Quem aceitar o convite de Jesus (“Venha ver”) receberá outro convite (“Venha cear”). O primeiro é para os que ainda não são do Seu rebanho; o segundo é para os que já entraram no Seu aprisco. 

IV.       Uma Grande Descoberta (Jo 1:40) 

     André saiu daquela casa transbordando com uma poderosa convicção e, enlevado pela descoberta que tanto o emocionara, foi correndo falar com o seu irmão Pedro, anunciando as novas que fariam palpitar o coração de qualquer verdadeiro israelita: “Achamos o Messias”. 

     Muitos judeus podem dizer, até hoje: “Cremos na vinda do Messias, oremos e ansiamos por aquele acontecimento”, mas nenhum judeu que não crê em Jesus pode dizer, juntamente com André: “Achamos o Messias”.

    Note que André veio ser testemunha de Cristo no dia de sua conversão. As coisas maravilhosas que Cristo sussurra nos ouvidos do homem, em segredo ficam ardendo n íntimo até que ele conte aos outros. 

V.          Um Serviço de Amor (Jo 1:42) 

    André não se restringiu  contar as novas: queria que seu irmão as experimentasse por si mesmo. Lemos, portanto: “E levou-o a Jesus” – o serviço mais gentil que uma pessoa pode fazer a outra.  

    Não é necessário que alguém seja grande pregador ou gênio espiritual para assim fazer. 

    André começou o trabalho em seu próprio lar: “Este achou primeiro a seu irmão”. O melhor preparo a um missionário é começar em casa; se não conseguimos levar outra pessoa a Cristo em nossa terra, como o faremos em outra terra?

    Quando o endemoninhado gadareno liberto por Jesus quis seguir viagem com Ele, o Mestre respondeu: “Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes o quanto o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti” (Mc 5:19).

VI.       Uma Recepção Graciosa (Jo 1:42) 

“Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)”. Cefas em hebraico, quer dizer “pedra” ou “rocha”. O que Cristo quis dizer com isso? 

1.   Na Bíblia a mudança de nome frequentemente significava mudança da natureza da pessoa, da situação ou experiência (Gn 32:28). 

    Este encontro com Jesus se constituiu em ponto crítico na vida de Pedro – a hora em que ele passou a ser de Cristo. 
ü  O nome deve ser um legítimo reflexo do caráter da pessoa.
ü  A Bíblia diz que vamos receber um novo nome no céu (Ap 2:17). 

2.   A mudança de nome foi, neste caso, uma promessa de poder transformador. 

    Talvez Pedro pensasse consigo mesmo, na presença do Mestre: “Como poderei eu, hom, seem de caráter fraco e instável, ser digno de entrar no reino do Messias?” (cf Lc 5:7,8).  

    O Senhor, percebendo os temores íntimos de Pedro, queria dizer: “Sei que o homem chamado Simão é conhecidamente impulsivo, impetuoso e instável. Tenha, porém, bom ânimo. Assim como sei quem é você, assim também sei o que você será. Venha a mim assim como você é, e eu farei uma pedra firme no meu Reino. Como sinal desta promessa, seu nome será Sefas”.  

    O Senhor sempre é o mesmo: recebe-nos em nossa fraqueza sabendo que poderá nos tornar fortes. 

3.   O novo nome foi sinal da autoridade de Cristo exercida sobre Pedro, assim como um rei pode alterar o nome de alguém que levou cativo (Dn 1:7). 

    Daquele momento em diante, Pedro ficou pertencendo a Cristo e, com todo amor, chamava-o de Mestre. 

VII.    Ensinamentos Práticos 

1.   A maior necessidade do homem. 

    Sacrifícios, altares e templos em todas as terras e épocas testificam esta verdade: os homens sempre sentiram o fato de as coisas andarem erradas no seu relacionamento com o poder superior, e que a apresentação de um sacrifício com derramamento de sangue é necessária para retificar a situação.  

    Cada pessoa que honestamente examinar o seu próprio coração sentir-se-á constrangida a dizer “Amem!” para a declaração bíblica: “Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23). 

     Muitos remédios têm sido oferecido para curar a falta de harmonia que há na alma humana; João, o Batista, porém, apontou o remédio divino: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1:29). 

2.   Uma Pergunta Profunda – “Que buscais?” 

Esta pergunta sugere duas lições.

1)   A necessidade de termos nítida consciência de qual é o nosso objetivo na vida.

a)   Muitas pessoas são levadas a derivar pela vida, impulsionadas pelas circunstâncias; sabem quais as suas necessidades imediatas; não podem, porém, apontar um objetivo supremo para atingir, nem mencionar um grande propósito que controle sua vida. 

b)   Jesus, para despertar nas pessoas o reconhecimento de quão fútil é a vida que vão levam, pergunta-lhes: “Que buscais?”. 

2)   A pergunta desafia as pessoas a se tornarem discípulos sérios. Marcos Dods escreve: 

    “Cristo deseja ser seguido com toda seriedade. Tantos o seguem porque  uma multidão está indo atrás d’Ele, levando outras pessoas consigo; tantos o seguem porque está na moda, sem possuírem opinião própria; muitos o seguem como por experiência, e vão ficando para trás quando surge a primeira dificuldade; mitos o seguem com ideias errôneas quanto àquilo que esperam da parte dEle... 

     Cristo não manda ninguém embora simplesmente pela sua lentidão em entender quem é Ele e o que Ele tem feito pelos pecadores. Com esta pergunta, “Que Buscais?”, no entanto, nos faz entender que aquela atração vaga e misteriosa que, qual ímã escondido, atrai a Ele as pessoas, deve ser trocada por uma compreensão nítida quanto ao que nós mesmos esperamos receber dEle para suprir as nossas necessidades. Ele não rejeitará pessoa alguma que responda, com sinceridade: “Buscamos a Deus, buscamos a santidade, buscamos serviço contigo, buscamos a Ti”. 

3.   “Vinde e vede” – v. 39

É um desafio aos que duvidam e questionam.  

     Certo cristão aceitou o desafio de um não-crente para debater com ele em público. Depois do discurso do não-crente, o cristão, sem falar uma palavra, tirou uma laranja do bolso, descascou-a, comeu-a e depois perguntou: “Bem, como estava a laranja?” “Como vou saber?”, retrucou o não-crente. “Nem sequer provei dela”. Respondeu o crente: “Como o senhor pode conhecer o Cristianismo quando não o experimentou?”.

     Um interessado pode ouvir e ler acerca de Cristo; o melhor caminho, no entanto, é chegar diretamente a Ele para experimentar Seu poder. Para se explicar aos índios da floresta tropical o que é o gelo, mais valeria um pedaço para examinarem do que uma hora de preleções sobre o assunto. 

4.   Testemunho de Cristo.  

O testemunho de André sugere três lições: 

1)   “Este achou primeiro a seu irmão”. Quanto mais estreitos os laços de parentesco entre quem testemunha e quem ouve, mais enfático será o testemunho. Há mais força de convicção entre os que se conhecem intimamente do na mensagem falada em público. Quando alguém encontra Cristo de forma tão real que sua alegria é tão óbvia como quando encontra um excelente emprego ou vaga universitária, seu testemunho não deixará de convencer aos que o conhecem.

2)   O testemunho pessoal é prova da convicção pessoal; quando alguém tem profunda convicção, não pode ficar tranquilo até compartilhá-la com outra pessoa.

3)   O testemunho pessoal faz parte do plano de Deus para a evangelização do mundo. 

     No século que se seguiu à era apostólica, não houve notícia de “grandes” evangelistas e missionários; não há registro de campanhas evangelísticas abrangendo cidades inteiras. A igreja, no entanto, cresceu num ritmo veloz. A explicação é que cada cristão considerou seu dever e privilégio testemunhar de Cristo. O escravo testemunhava perante seu dono; o operário, ao seu companheiro; o vendedor, aos seus fregueses; o filho aos pais. Os pastores,  evangelistas e missionários se destacam na liderança da obra de ganhar almas para Cristo, mas não podem ficar sem a colaboração dos membros das suas congregações.

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